No final do ano acompanhamos a batalha judicial entre Oscar e o São Paulo. O jovem jogador pediu na justiça a liberação de seu vínculo com o Tricolor, tido como o clube com a maior estrutura de base no Brasil.
Não aprovo a decisão do garoto, mas entendo os seus motivos. Ele estava antecipando um passo que costuma ser do clube, o de dispensar suas jovens promessas como se o trabalho todo realizado na base não tivesse obtido o sucesso desejado.
Lembro que conversei com Oscar no meio do ano passado, no C.T. da Barra Funda. Na época Muricy Ramalho ainda era o técnico. Ele ainda não tinha jogado no profissional e parecia incomodado com a situação. Após observá-lo batendo algumas faltas com maestria, brinquei que ele queria tomar o lugar do Ceni nas cobranças e logo após perguntei sério se ele achava que estava pronto para jogar. A resposta para a segunda pergunta foi a que me surpreendeu:
“Não sei se estou pronto, eu só treino, nunca me colocam para jogar”.
O São Paulo mudou de treinador e Oscar teve algumas chances, poucas é verdade, longe da seqüência que um jogador precisa. Ainda assim mostrou excelente futebol. Para a temporada 2010 o São Paulo contratou o veterano Marcelinho Paraíba e não deve utilizar muito o garoto, isso sem falar em Sérgio Mota, da mesma posição e que era tido como a maior promessa das categorias de base, o garoto (já nem é mais tão garoto assim) nunca foi aproveitado. Sem falar no lateral Diogo, que resolveu tomar o mesmo caminho de Oscar e buscar a justiça para deixar o clube.
Já o zagueiro Diego teve a seqüência no Corinthians. Jogou bem na maioria das vezes e foi importante na conquista da Copa do Brasil. Agora o clube contratou o também jovem Leandro Castan, que jogou bem o Brasileirão pelo Barueri e no ano do centenário o garoto Diego deve ser emprestado para o Ceará, viaja hoje para acertar os últimos detalhes da transferência, mesmo sem saber direito por que não será utilizado.
“Eu ia me apresentar mas eles optaram por não contar comigo. Não estou chateado com ninguém, mas fico triste por não estar lá, justo no ano do Centenário. Fui campeão da Copa do Brasil e não vou disputar a Libertadores, talvez eu não me encaixe no perfil que eles queriam”, diz Diego.
O que existe de comum entre todos eles é que são crias da base, garotos que viveram e formaram seu caráter dentro do clube e que, cada vez mais, não conseguem se firmar no profissional. São raros os que são aproveitados no time principal nos grandes de São Paulo, prova de que o trabalho é mal feito ou não objetiva revelar jóias para a equipe de cima.
O contra exemplo disso é o Barcelona, da equipe que ganhou tudo no ano passado, nada menos do que nove jogadores foram formados em La Masia, centro de treinamento das categorias menores do Barça. Valdes, Pique, Puyol, Xavi, Iniesta, Bojan, Busquets, Pedro a mais jovem promessa e Messi, a maior realidade do futebol mundial, todos eles aprenderam desde cedo o que é jogar em uma das maiores equipes do mundo.
Talvez por isso tenham tanta identificação com a camisa e joguem com tanta vontade e o Barcelona seja a equipe que é. O vínculo que selaram é maior do que o contrato assinado, e mais difícil de ser quebrado. Melhor do que contratar no escuro e torcer para dar certo. Que sirva de lição para nós!